
Em Camaragibe, perder alguém querido tem sido apenas o início de uma longa e angustiante via-crúcis. Não bastasse o luto, os familiares dos falecidos ainda precisam enfrentar uma dura realidade: a ausência de vagas para sepultamento no cemitério público da cidade. Essa situação, que se repete ano após ano, revela um problema estrutural que já se arrasta há tempos e que continua sem solução.
Nesta semana, mais uma família viveu esse drama. Após o falecimento de um parente, não encontrou vagas para o sepultamento no cemitério municipal. Com recursos limitados, os parentes ainda tentaram manter o corpo conservado por meio de formol, mas nem sempre isso é possível — o custo, por mais simples que pareça, não é acessível para todos. É uma crueldade exigir planejamento financeiro para a morte, quando muitos já mal conseguem garantir dignidade na vida.
Segundo relatos de um familiar envolvido no episódio, até o cemitério de Tiuma, no município vizinho de São Lourenço da Mata, também se encontra lotado. A única alternativa possível foi transferir o sepultamento para o cemitério do Barro, no Recife, distante da cidade natal do falecido e dos entes queridos que queriam prestar uma última homenagem. Isso desrespeita o vínculo com a comunidade, desassocia o morto de seu território e dificulta até mesmo o luto da família.
Essa não é uma exceção, é uma repetição. O problema da superlotação do cemitério público de Camaragibe não é novidade. Já vem sendo registrado há anos, sem que nenhuma providência definitiva seja tomada. Enquanto o tempo passa, a cidade cresce, e com ela, inevitavelmente, também aumenta o número de óbitos. Mas o que não cresce é o planejamento e a responsabilidade pública com essa etapa final da vida.
É preciso encarar a morte como parte da estrutura urbana. A ausência de políticas públicas eficazes para o setor funerário denuncia a invisibilidade da dor dos mais pobres. Quem tem condições financeiras consegue pagar por jazigos em cemitérios particulares ou custear translados. Mas e o povo, que não tem para onde correr? Vai continuar enterrando seus mortos longe de casa?
O município precisa urgentemente encarar esse desafio de frente: seja por meio da ampliação do cemitério existente, da construção de um novo espaço para sepultamentos, ou até mesmo da implantação de políticas alternativas como o incentivo ao uso de crematórios públicos — soluções existem, falta apenas vontade política e sensibilidade humana.
Morrer é um destino comum a todos. Mas em Camaragibe, até para morrer é preciso ter sorte. Está mais do que na hora das autoridades encararem o tema com seriedade e darem à população dignidade, mesmo depois do último suspiro.
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