
Na política, toda vez que um político decide mudar sua trajetória de apoios ele costuma ser carimbado como “vendido” ou “traidor”. Mas será mesmo? Essa leitura simplista ignora um ponto essencial: o mandato pertence ao povo, não a grupos, partidos ou caciques que tentam manter políticos acorrentados por conveniência.
É curioso como antigos aliados, que em outros tempos se beneficiaram de uma parceria política, de repente passam a exigir lealdade eterna, como se, por exemplo, vereador, deputado ou prefeito fosse propriedade privada. O que era uma relação de mão dupla passa a ser cobrado como obrigação unilateral. Isso não é política, é aprisionamento.
▪️ Vereadores
Os chamados caciques ainda insistem em agir como donos da verdade, esperando que vereadores se comportem como cães de guarda: obedientes, submissos, silenciosos. Mas esquecem um detalhe crucial: cada vereador foi eleito com legitimidade própria. É ao povo que ele deve satisfações, não a grupos que se acham donos de sua voz e de seu destino.
Se o povo escolheu o vereador, é ele — e somente ele — quem tem o direito e a responsabilidade de tomar as rédeas do seu mandato. Ele é o único dono da sua legislatura, cabendo a ele avaliar o cenário, medir as circunstâncias e decidir o melhor caminho a seguir. A democracia é, antes de tudo, a garantia dessa liberdade de escolha.
Com as eleições se aproximando, será natural ver vereadores e outros políticos divulgando suas escolhas, firmando apoios e anunciando novos alinhamentos. Isso faz parte do jogo democrático. Infelizmente, também será comum ver aqueles que, incapazes de compreender a dinâmica da política, preferirão rotular o vereador como “traidor”. Mas a verdade é que quem decide não é o cacique, é o povo — e o vereador, como representante legítimo, tem o dever de agir de acordo com sua consciência e com aquilo que acredita ser o melhor para sua comunidade.
Mudar de rota não significa abandonar princípios, “se vender” ou negar compromissos com a população. Significa, muitas vezes, buscar novos meios de concretizar aquilo que foi prometido nas urnas. É um ato de coragem, e não de covardia. Covardia, aliás, é querer transformar a política em um campo de servidão, onde poucos mandam e muitos obedecem.
A reflexão é inevitável: democracia não combina com grilhões. A lealdade jamais pode ser confundida com subserviência. Respeitar a independência de um vereador é respeitar a própria escolha do eleitorado, que não elegeu um subordinado, mas sim um representante.
No fim das contas, o mandato é como um ônibus: quem segura o volante é o vereador, quem abastece é o povo. O resto é passageiro que não aceita descer no próximo ponto.

#Hely Cruz